Retrato - Cecília Meireles
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?
tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Esse
poema da Cecília é um dos mais simples da literatura brasileira para se
interpretar. Nele, o eu lírico, faz um retrato de si mesmo trazendo passado e
presente para dialogar junto dela. São inúmeras as reflexões que podemos fazer
a partir dele, mas a mais simples é: como o tempo passa rapidamente...
Deixamos para amanhã, depois
e depois as coisas que poderiam ser feitas no imediato, adiamos as ações das
nossas vidas por colocá-las no futuro. O tempo vai passando, não sentimos isso
acontecer e quando paramos para pensar "– Em que espelho ficou
perdida a minha face?". Onde
deixamos aquele sorriso perdido, aquele encontro marcado, aquele beijo que não
foi dado, aquele eu te amo que não foi dito, aquela noite de luar, aquela
caminhada ou aquele simples copo de água que poderia ser dividido com alguém
especial? Não
notamos pelas mudanças, não notamos pelo tempo passado, não notamos as pessoas
que nos deixaram. Até finalmente, percebermos que envelhecemos, percebermos que
basicamente só temos as lembranças e que já é tarde demais para muitas coisas
que deixamos pelo caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário