quinta-feira, 26 de maio de 2016

#III Poesia

Quadrilha - Carlos Drummond de Andrade 

João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria 
que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se 
e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrada na história. 


Drummond querido, vamos conversar. Nessa dança onde ninguém amava ninguém, no final das contas alguém amou? Talvez minha querida amiga Lili tenha se safado, já que no início ela não amava ninguém, mas também pode ter sido a que menos amou, por não ter amado ninguém, talvez não saiba o que realmente sente por J. Pinto Fernandes. Assim é a vida, damos atenção a quem não nos dá à mínima e nos afastamos de quem realmente poderia nos fazer bem. Fico me perguntando se Joaquim se matou por falta de amor, seria uma pena, né? Nessa quadrilha a única coisa que faltou foi reciprocidade, porque se organizasse direitinho, todo mundo poderia se amar... 






sábado, 14 de maio de 2016

#II Poesia

Bilhete - Mário Quintana 

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados 
Deixa em paz os passarinhos 
Deixe em paz a mim! 
Se me queres, 
enfim, 
tem de ser bem devagarinho, Amada, 
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda... 




     Mário, Mário, Mário... Nada melhor que um amor longe dos olhos dos outros, como diríamos agora, amor longe dos likes. De que adianta espalhar para todos uma felicidade, que em alguns casos não existe, se o melhor podemos fazer no privado.
     Não grite aos quatro cantos do facebook os seus sentimentos, não fique publicando fotos no instagram apenas para mostrar que está acompanhando e compartilha um momento com alguém em especial, não precisa escreva em 144 caracteres todas as suas descobertas a dois, ao invés disso, sussurre ao pé do ouvido o quanto a pessoa é especial, afinal isso só interessa a vocês, compartilhe entre um bate-papo a dois ou entre amigos as memórias dos melhores momentos e crie novos longe das telas dos Smartphones e ligue ou apareça na casa da pessoa de surpresa todas as vezes que quiser falar de suas descobertas e sonhos. 
     Como diz Mário, "a vida é breve, e o amor mais breve ainda...". Aproveite cada minuto ao lado do seu amor de forma leve, divertida, sem neuras e "mimis", o tempo passada e tudo o que sobra é um café quente, uma coberta quentinha e lembranças maravilhosas.  





sexta-feira, 6 de maio de 2016

#I Poesia

Soneto da Separação - Vinícius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.



Ah, Vinícius... Acho que poderíamos ter sido grandes amigos. Seria maravilhoso sentar na Orla de Ipanema e tomar o chá das cinco ouvindo você recitar esse seu poema. Sou apaixonada por esses versos, sou apaixonada por sentir que tudo na vida é: "De repente, não mais que de repente."